Cegos

e tudo isso que expressamos se tornou tão imagem
tudo isso que queremos ser se tornou tão perfeito
a mostra, exposto, como uma vitrine belíssima 
expomos nossos erros como uma forma de mostrar algo aos outros
usamos nossa vulnerabilidade como maneira de se sobressair

tudo isso deixou de ser sobre a verdade
tudo isso deixou de ser sobre sentimentos
toda a nossa voz deixou de ser a voz do coração
como quando a criança diz para mãe: eu amo você

e vamos seguindo essa caminhada do ego
trilhando tudo isso com orgulho
bradando sobre nossa dignidade como grito de guerra

mas onde vamos parar?
quão perto dos outros estamos de verdade?
quão perto de nós mesmos?

e tudo vai ficando mais e mais escuro

intenso

minha dor é lacerante
perfura profundo tudo dentro de mim
mas não busco por esconderijos
tenho olhado a solidão nos olhos, por mais pavor que sinta

eu tenho sentido pavor,
eu tenho ficado paralisado
tenho ficado um pouco louco a cada dia, um pouco são
mente que ferve, derrete, ferve, congela

eu tenho me enganado e me dito todas as verdades ao mesmo tempo
venho vivendo pura esquizofrenia
venho carregando um coração que lateja
venho pulsando como um animal prestes a morrer

eu já não grito mais
eu já nem tenho voz
tudo em mim é lágrima quente e salgada
tudo em mim é silêncio