terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A concha

 aprendi a transformar todos os meus medos em raivas

minhas inseguranças se metaforsearam em algo violento

eu observava os grandes lutadores com punhos cortados e cabeça sangrando como se me olhasse no espelho

expressei meus sentimentos em gritos e acusações

quase como se não tivesse a menor capacidade de controlar minhas palavras

destilei meu veneno indiferente como forma de colocar para fora minhas frustrações e minhas invejas 

eu me via como um terrível monstro porque me comportava como um


e no fim, era apenas uma criança com medo

de ser maltratado pelo mundo

de ser rejeitado por quem eu queria que me amasse

demorei a salvar minha criança

demorei a perdoar a mãe que não o fez (e não detinha meios para...)

demorei a tornar-me meu pai, minha própria mãe

a segurar minha mão

demorei a voltar a ser gente

agora grande

agora um tanto mais forte


como um molusco preso dentro da sua própria concha, sem possibilidades de libertação

livrei-me

mas de tempos em tempos ainda me vejo ali, metade dentro, metade fora


nem tudo é como pensamos ou queremos 

nem tudo é

nem tudo deixa de ser

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...