aprendi a transformar todos os meus medos em raivas
minhas inseguranças se metaforsearam em algo violento
eu observava os grandes lutadores com punhos cortados e cabeça sangrando como se me olhasse no espelho
expressei meus sentimentos em gritos e acusações
quase como se não tivesse a menor capacidade de controlar minhas palavras
destilei meu veneno indiferente como forma de colocar para fora minhas frustrações e minhas invejas
eu me via como um terrível monstro porque me comportava como um
e no fim, era apenas uma criança com medo
de ser maltratado pelo mundo
de ser rejeitado por quem eu queria que me amasse
demorei a salvar minha criança
demorei a perdoar a mãe que não o fez (e não detinha meios para...)
demorei a tornar-me meu pai, minha própria mãe
a segurar minha mão
demorei a voltar a ser gente
agora grande
agora um tanto mais forte
como um molusco preso dentro da sua própria concha, sem possibilidades de libertação
livrei-me
mas de tempos em tempos ainda me vejo ali, metade dentro, metade fora
nem tudo é como pensamos ou queremos
nem tudo é
nem tudo deixa de ser