sexta-feira, 27 de maio de 2016

Primavera

eu quero ver você sorrir
preciso da sua felicidade, da sua saliva em mim
quero seus desejos se deleitando nos meus
quero suas músicas no meu rádio
e seus filmes na minha TV
seu calor, seu toque, seu cheiro

quero você pra mim, sendo seu só seu
sendo assim como tem que ser
quero eu água, você correnteza, nós dois rio
quero eu pedra, você chuva
você areia, eu vento

quero você de olhos fechados, leve, deitados
quero que o tempo te leve e te traga
sem dor no peito, sem nó na garganta
sem tem por quê e pra quê

para ti pétalas de rosas
poesias e poemas, ondas do mar
pra ti pôr do sol, chuva e o luar

eu assim, suado, sua pele na minha
minha carne na sua
inteiros, entregues, reunidos

Cruel

ela não olhou para mim
correu, pulou, me pisou
parecia um turbilhão de vontades de se auto descobrir
se descobrir em mim
tentou, caiu, pensou
correu sem olhar, derreteu, me encontrou
Foi de mim ao chão, lentamente, tão lento que suas forças iam deixando-a, abandonando-a em pleno cansaço furacão.

olhei para ela
era o sinônimo de tristeza
percebi que eu devia estar triste também
todos deveríamos, em todas as galáxias
mas sempre é mais fácil esquecer, viver de curta memória quando não tem a ver com você
sussurrou "trinta homens"
"trinta e três" repeti me sentindo envergonhado
a noite não era mais a mesma, nem o espaço, nem ela, nem eu
fomos e nos esquecemos

eu queria apenas uma boa notícia, uma sequer...

Turvo

Eu vejo vocês sendo felizes
entre comemorações e viagens, festas e banquetes

Eu vejo você sendo triste
no peito da solidão, nos perdidos que a vida te dá

Observo tudo ao meu redor, no entorno, de lado
O sentido reto a frente, o caminhar, as risadas

Pasmo ao perceber o quanto sou diferente, o quanto sou igual

Vejo vocês sendo felizes e fazendo o que eu queria fazer
Sendo o que eu queria ser
Vejo vocês sofrendo pelo o que eu queria sentir, ou me importar
Ou estou apenas a me enganar
Será? Sei lá

As pessoas são quase como espectros
E eu me pergunto: não sou eu um também?
O mais sem nitidez, o mais cinza
como o céu fechado antes da chuva

respiro sim, pra deixar, apenas, que a vida viva em mim


segunda-feira, 16 de maio de 2016

M

Dizer que é baile de favela
Gueto, perifa, liberdade acelerada
E a vida dela? Que valor tem a vida dela?
De todas elas, da menina solta e desprotegida até a presidenta da república

O mundo é dos homens
E que falta de respeito quando é ensinado que ela deve ser sua
Mesmo sabendo que você veio ali de dentro

Ela é a falta, o buraco a ser preenchido de masculinidade
Ela é frágil, mas será? Todo o suor, todas as batalhas

Você só quer jogar, respeita a sua mãe, mas ataca a mãe dos outros
Protege sua filha, mas ataca a filha alheia
Você só quer jogar, e nunca para pra pensar

Se acha rei e no topo do mundo, imundo
Irreal, desleal. Num planeta em que todos deveriam ser iguais
Homem, mulher, bicho, humano
Mas olhe pra baixo, sempre existe o ser esmagado debaixo do seu pé

Num lugar pesado como esse, falta a leveza no caminhar, no coração
Cadê os menor, e os maior, preparados pra andar devagar ao lado dela?

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...