domingo, 29 de outubro de 2017

incompleto

lembro exatamente das etapas do teu gosto
da sensação do suor da tua nunca nas minhas mãos
do teu calor perdendo temperatura
do deslizar da boca sobre a minha
dos dedos que tentavam decifrar minha pouca barba

de relance, num lampejo, se foi
não para sempre, botamos abaixo as paredes do drama
mas é que mesmo com todo esse gosto e a aquela sensação complexa
tudo parece tão sem graça
como a frieza que teu corpo parecia encontrar

gosto de mais calor nas minhas terras
gosto que tudo pegue fogo até acabar 


o ponto de chegada

quantas dessas coisas foram abandonadas
estão por aí, jogadas em algum lugar, empoeiradas
quantos de vocês foram deixados
quantas vezes fui eu, largado por qualquer lugar

meu olfato não pode chegar a sala fechada
o porão é proibido pra mim

vamos nos acostumando a voltar ao mesmo lugar
sem nunca chegar até ele de fato
e porque deveríamos?
o que deveríamos?

sem morte, sem dor
preenchido com torpor

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

volta

Tenho enfrentado a melancolia da mesma forma que a alegria
Como um vento que dá, pousa ao redor e se vai
Nada de diferente, nada de novo, nada igual
A água é sempre diferente em cada ponto do rio
Tenho estado alerta a tudo aquilo que há aqui dentro
Tudo o que está fora só me tira do caminho
E para onde caminho?
Para onde preciso ir, na segunda, na terça, na vida
Tudo é descoberta, tediosa ou incrível.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Agora

Precisamos gargalhar e deixar essa expressão sisuda desfazer
Precisamos dar leveza a todo esse concreto que nos cerca
Que abarca ruas e o horizonte do nosso olhar
Que petrifica corações e nos distancia de nossas almas
Nos distancia uns dos outros...

Precisamos destruir muros,
Internos, externos, invisíveis
E construir pontes
Habitar praças e sentimentos
Precisamos nos nutrir daquilo que não se come com a boca
Mas se consome com o peito

Precisamos reverter as ondas
Pula-las, navegá-las de outras formas
Precisamos...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Deus Shiva

É preciso destruir
As amarras
O lugar confortável
Aquele cenário igual e estático

É preciso destruir, se livrar do antigo

Assim abre-se espaço
Assim o caminho fica limpo e livre para o novo

É preciso dançar como Shiva
Com coragem, força, firmeza
É preciso aprender os passos de Parvati
Usar da delicadeza, da sensibilidade

Dois lados da mesma moeda
A destruição é necessária
A reconstrução cura!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Hoje em dia

Quero todos os dias
Um querer de força
Desfaço em poucas dúvidas que se desfazem em muitas certezas

Soube antes de vires que viria
Senti, como uma pressentimento
E antes de tudo, já sabia o que não devia
Sabia que virias
Sabia o que seria de mim
Sabia que seria teu

Veio,
como quem rasga os pneus na pista
Faz fumaça
Deixa marca
Evidências aos outros dias

Ficou
Com uma refrescância de quem acabou de chegar

E segue, se desfazendo, refazendo, repensando
Menino angustiado, superlativo hiperbólico

não vou
mas nós
vamos e vamos e vamos...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Constante Inconstância

Andando pelo asfalto eu encontro uma liberdade
Com o peito aberto de coragem
Garra e vontade
Mas qual o preço da segurança?

Posso carregar a bomba nas mãos
Quanta loucura eu diria
Quanta loucura, sempre soube

No encalço dos nós encontro uma oportunidade
De ser grandioso ou de apenas me desconstituir
Ser teatral, quantas máscaras sem nenhum vintém

Quantas amarras para soltar
E não descuidar quando tudo apertar
Força minh'alma
Força minha gente
Essa terra é nossa
Essa é tua conquista

Ergo a espada e gravo no peito de gelo
É o fim de uma era
Até eu já era...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Deve seguir...

Aparando as arestas em mim
Vou seguindo com a certeza de que as coisas vem e vão
Os sentimentos em mim
Essas violentas sensações de retorno ao local de início
Tudo faz parte, tudo faz parte na vida do homem

Seria lindo ser como a borboleta que sai do casulo e voa, sem mais a ele retornar
Mas essa não é nossa história,
Essa não é nossa natureza
Seguir é sempre o caminho
Assim como nada é permanente
O aprendizado se faz sob quedas e atropelos

A esperança deve seguir firme
Deve seguir forte

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...