terça-feira, 30 de agosto de 2016

Ventando

Assim como com a água me relaciono com o vento
Tento entender suas indicações
Regojizo nos afagos que ele me faz inesperadamente
Transformando momentos perdidos em claridade e frescor.

Gosto de ventanias
As vezes sou vendaval
Nos dias mais simples passo como uma brisa.

Me relaciono com o vento e me confundo com ele
Ele sou eu, eu sou ele
E assim sigo, como um tufão veloz ou uma tempestade de areia
Tudo vento.

Vento que traz, que leva, que bagunça e coloca em outro lugar.
Vento de mudança,
Vento movimento
Que faz minha alma se identificar.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Realidades

Se você não vem quando eu preciso
Eu realmente não vou precisar de você
Por quê um abraço partido, partiu
Um laço desfeito, desfez
E o tempo leva tudo embora
Tudo embora, tudo.

Eu também vou embora, sim
E talvez não espere que você venha
Talvez eu espere que você não me chame
Talvez minha ilusão seja crer naquilo que um dia vislumbrei
Talvez meu erro seja achar que eu ainda preencha um texto com um sentimento de quase

Verissimo disse: É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
E eu, eu não estou mais para o quase.

Sonolência

Eu estou parado
Eu estou parado com meu coração em minhas mãos
Parado com o meu coração nas mãos
Eu estou parado
Paralisado e entorpecido.

Sinto com minhas mãos meu coração que pulsa lento, quase parado
Em meu peito vazio eu sinto uma corrente de ar, como um sopro do nada
Sinto com minhas mãos, parado, meu coração

Ouço, eu ouço o sangue que pinga pontualmente no chão
Ouço o sangue, eu ouço o sangue
Que pinga pontualmente
Tudo é silêncio
Tudo em mim é silêncio

Estou completamente bêbado, mas não bebi um gole
Estou bêbado, eu estou
Bêbado com meu coração nas mãos
Sentindo meu sangue pingar
Uma gota de cada vez

Não ouço nada
Não vejo
Meus olhos estão fechados
Eu nem tenho olhos

Eu estou aqui, de pé, parado
O palco me engoliu e eu deixei de sentir naquele exato momento em que senti tudo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Nenhum Abraço essa Noite

Sentado na cadeira de balanço observo a rua vazia
Rua que segue como uma ladeira e acaba em um caminho após o horizonte
Escuro como a noite
A lua brilha cheia de luz e eu me pergunto:
aonde isso tudo pode nos levar?

Onde isso tudo pode me levar?
Afinal de contas estou sozinho.

Então agora que ser a única estrela no céu não me incomoda mais
Agora que todas as noites são um milagre
Agora que a água em mim balança levemente para lá e para cá
Agora que nada se foi, mas nada está mais aqui
E agora?

Fecho meus olhos e vejo o traços da rua vazia ainda em minha visão
Tudo é tão cheio de luz, mas as pessoas tão vazias de vida
Rua vazia, pessoas vazias
Onde eu irei para me nutrir de amor?
Onde irei?
Onde?

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Amendoim

Quero pensar por mim mesmo
Sem recorrer a grandes sábios.
A sabedoria interior as vezes é o bem mais precioso

Quero decidir por mim mesmo
Sem dados ou par ou ímpar.
Quero deixar aflorar a intuição e escolher sem receio.

Quero estar integral por mim
Sem buscas, sem insatisfação.
Apenas refocilar na completude que o homem é capaz de possuir.

Afinal de contas isso tudo é uma imagem matrix fornecida pelo ego
Nem sempre o que os olhos vêem e a memória clama é o que é realmente bom
Nem sempre o que fez bem no passado funciona no presente
Nem sempre a saudade é uma boa escolha

Enquanto algumas companhias pesam
Outras só te fazem sorrir e flutuar
Eu converso com qualquer da rua.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

de repente chorei outra vez

não posso acariciar gatos
e pra mim isso é uma dor
pra mim isso representa tudo aquilo que não posso proteger
tudo aquilo de mais indefeso no mundo

não posso acariciar gatos e isso me faz querer chorar
isso aperta o meio peito
pois me lembra todo o amor que já deixei de dar
e deixar de dar amor é realmente um motivo de choro

não posso acariciar gatos e isso me lembra o quanto estamos todos separados
o quanto nós, seres humanos vamos deixando de ser humanos
vamos nos padronizando no que é certo e errado
no que deve ou não ser feito
vamos criando amarras, delimitando eu te amo's
deixando para depois o amor que poderíamos dar 

não posso acariciar gatos, mas começo a pensar que um pouco de coceira vale a pena
começo a ver que desde que deixei de me reconhecer, passei a conhecer a mim de verdade

não posso acariciar gatos,
e não posso deixar de ser humano e, talvez exatamente por esse motivo,
não deva deixar de acariciar gatos. 


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Adeus, para sempre

Eu abri meus olhos
Estou completamente nu, nessa noite escura
completamente só, nesse frio
sem pestanejar sou absorvido por todas essas estrelas
não mais uma estrela solitária, todas elas em mim.

Atravessando a noite escura em direção ao grande sol
um homem que nunca fui enxergando o homem do passado
vejo o menino no espelho e nos encontramos em passos de dança
o carrego aqui e continuo pela escuridão
as partículas de luz me rodeiam, como um prenuncio do que está por vir.

Mergulhando no lago de água gelada
minha dor reflete a lua e compreendo...
nada, jamais, será o mesmo
memórias foram varridas, buracos tapados, os gritos se tornaram silêncios
É preciso dizer adeus, finalmente. 


A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...