quinta-feira, 30 de junho de 2016

O final

Comecei a pensar que o medo me fez bem
Ele me levou a lugares tão escuros e solitários que encontrei a luz
Como um veneno, que mata, mas também cura.
Todos os medos emergindo em mim, como a erupção de um vulcão.
Como o magma que escorre pela montanha e chega até o mar, deixando um rastros de destruição
Destruição que permite novos espaços para construção.

Sou grato, e quanto mais agradeço, mais motivos enxergo e surgem para ser grato.

Evoé.

domingo, 26 de junho de 2016

No escuro

E todas essas cores que estavam em mim se foram
Junto com os corpos e os toques e essas melodias que ecoam pela minha audição.
Estou no escuro, sozinho, ouvindo coisas que não conhecia
Enxergando lados meus que são brandos
Que se manifestaram e se encontraram no meio do conflito e das guerras internas.
Sou outro outra vez.
E se você pensa que estou ficando, esperando ou indo embora, estamos todos enganados.
E se você imagina que amanhã ou ontem... você está enganado.

É que me sobra humanidade e luz
É que me abracei durante o choro
Durante o medo
É que a noite chegou em mim e me tomou
E a luz do sol me banhou
É que amo você. E amo a mim.
É que em mim estamos perdoados.

E no escuro, a noite, meu bem
Me transformo
E a lua brilha sim.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Miss Ives

As vezes nos apaixonamos por aquilo que não existe
Por aquilo, ou aquele que vemos através de uma tela
Por algo que sequer é real, por um personagem, uma forma de olhar
As vezes nos apaixonamos pela identificação que a ficção nos causa.

Te estranhei, repugnei... teus olhos, tua fraqueza
Toda a escuridão e lascividade que emanava em cada passo
Perseguida pelas sombras, afrontosa, vil
E principalmente... absurdamente... lamentavelmente solitária.

Se olhava no espelho e via solidão, sentia a dor no peito por não alcançar com firmeza a luz que tanto clamava
E mesmo assim, inevitavelmente talvez, me apaixonei,
Assim como a criatura fez o homem, a besta, a criatura
Pela sua esperança, pelo magnetismo que dizia: não posso ser, e nunca serei, apenas uma coisa

Te enxergava como quem olha nos próprios olhos através do espelho
E queria ver seus passos até o fim
Tudo como uma doce e obscura ilusão
Mas é isso, apenas, que o poeta sabe fazer, chorar... e em alguns momentos escrever...

Cinzas

Eis-me aqui novamente
Amolecido pelo calor da dor
Rígido pelo mesmo motivo
Homem inteiro, de braços soltos, destensionado e cheio de cicatrizes.

Eis-me aqui por completo
Fera, ferido e curado
sentindo nos raios de Apolo o outro lado de perder

Pergunto-me, não seria a culpa apenas abjeto daqueles que nós querem presos?

Sou eu o novo eu, o velho eu e tudo aquilo que finda e abre espaço ao que estar por vir
Eu sou o que clama e é ouvido, que pede e tem o corpo apertado contra um peito
Abençoado, filho de Apolo e Dionísio
Filho do que vem do amor, da celebração e da paz

Eu sou aquilo que é feio e que é bonito, que é triste e que também sorri
Não mais, nem menos do que qualquer um é.
E digo: a diferença entre os homens não jaz em sua visão ou falta dela, mas sim entre aqueles que ouvem e os que estão surdos.

domingo, 19 de junho de 2016

Quase verde

Eu não vou clamar por algo diferente
Muito menos apontar o que estava errado
Prefiro deixar que os ventos levem, os tempos passem
Nem vencedor, nem vencido

O que não pertence ao deserto se vai, morre como peixe fora d'agua

E o que cabe a mim é mergulhar nesse verde vivo, verde mata
Cair em espiral até o desconhecido, como Alice...
Eu poderia ser todas as coisas, mas não precisa ser assim
Nem criminoso, nem vítima.

sábado, 11 de junho de 2016

Aqui, agora

Mas a verdade é cinza em tons alternados, análogos e próximos
Sutil em uma linha divisória fina em demasia
Isso te coloca em corda bamba

E no meu rio de lágrima encontrei a paz
Drenei a água do rosto e enchi a água do peito
Apenas para viver mais, para compreender, ter paz

Sou pedra, rochedo, aporto meu barco em mim mesmo
Acordo como guerreiro, realizo e sorrio
E no meio da mata, quando estiver perdido, eu vou gritar, cair no abismo
Até voltar a si, a mim.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O valor

Você percebe que as coisas mudaram quando seus atos se moldam em prol do bem estar do outro
Quando sua palavra se escolhe mentalmente em função de não ser hostil ou desagradável
Quando pra você o mais importante é que os seus estejam bem, sorrindo.
Quando você evita qualquer coisa que vá machucar alguém.

Vivemos os tempos cruéis do individualismo, nesse mundo dos homens, onde cada tempo tem sua cota extrema de crueldade. A mais atual é essa: pensar em si, em si, pensar em mim mesmo.
Sim, nosso templo é nosso corpo, nosso mestre é nossa mente
Mas não existimos sem o outro, não progredimos sem ele.
Não tem aula sem aluno, não tem laço sem abraço, não tem amor sem felicidade alheia

Vivemos esse padrão de uma necessidade em ser amado com exclusividade
Mas exclusivo mesmo é só aquilo que tem a ver com dinheiro, mercado, economia, material
E você fica assim, sociologicamente, na lógica do capitalismo
Em pensamento, em ação, e o pior, em sentimento.

Somos mais que isso, somos homens, humanos, feitos de carne
Com o peito cheio de sentimento, medo, dor, amor
Somos terra, água, somos todo esse universo que se dispõe para nós, por nós e nos nutre

E já dizia aquele reggae antigo: o valor de um amor não se pode comprar

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...