segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Condição

Deixei você entrar
Fazer parte
Estar
Deleitar-se em mim, sobre mim

Me apliquei em você
Como agulha fina
Me implicando sobre a pele, o gosto, gozo

Assim vou entrando
Como fogo que se espelha
Como vento que refresca e toca tudo ao redor

E fico aqui, aí, onde estiver
E somos dois, dois, um
Também somos mil, mil e cem
Tão loucos e tão normais, como se tudo fosse natural

Deixei você entrar e ficar como uma experiência sinestésica
Como se fosse a pessoa mais certa
O sentimento mais tranquilo e arrebatador
Como se fôssemos essenciais
Como se acabasse o ensaio e estivéssemos prontos, finalmente, para o palco principal

E como se tudo chegasse ao final
Do que foi antes, dos quatro ciclos de sete
Mas sabendo que tudo se trata do começo, recomeço
Reconheço.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Todos os reinos

Há alguns dias o céu segue nublado
Meio cinza claro, impedindo a passagem direta dos raios de sol
O tempo está mudando, os tempos estão mudando
Converso com meus amigos de uma forma diferente, como se tudo tivesse se transformado

No dia antes da chuva, um amigo me disse: deixa que isso brilhe, você não tem nada a temer
E tudo desaguou em rios tranquilos
Mas não existem pés sem calos
Isso está ficando difícil de entender, não é mesmo, meu caro amigo?

Talvez eu queira sair dos círculos que minhas palavras formam
Das fôrmas e formas que costumo tomar aqui e acolá
Tudo é sempre tão passageiro, tão assustador e tão bonito

Fico querendo compor essa música e tocá-la perfeitamente
Fico querendo conseguir tudo isso que nunca tive
Mas quando tentamos agarrar algo, aquilo já escapou...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Aonde estamos indo?

Ele nunca é elusivo
E eu me pergunto o que são as coisas que nos deixam vazios além de nós mesmos
Eu estou acordado, mas por quanto tempo isso persistirá antes de se tornar um dado matemático

Eu sou elusivo
E me pergunto quanto dele está de fato acordado
E qual é o acordo entre nós?

Nada é falso
Além dos meus lapsos de tempo e meus sustos quando pareço não tocar o chão
Alastrando a mesma história pelos meus últimos caminhos
Como se mostrasse dentro da caixa o brilho incessante que fico guardando

Verde e dourado
Essas são as cores do nosso esconderijo
Esconderijo em lugar algum
Quanto tempo leva até esgotarem as fichas de uma ligação com você?

sábado, 3 de dezembro de 2016

Alquímico

Dezembro chegou ao mundo com pavor 
E eu caminhando cheio de amor
Quantos homens consigo mastigar?
Sem evitar nenhum olhar

Costumava pensar no tempo como o senhor de tudo
Exato e perfeccionista nos mínimos detalhes 
Acredito que errei e sigo errado sobre minhas suposições 
Quem somos nós para mensurar em dias, semanas, anos ou décadas
Se a centelha da vida segue um curso imprevisível?

Olho para todos os lados
Sou amigo de quem, meu bem?
Com todo esse sentimento humano que carrego comigo
Sento nos bancos das praças ventiladas, sem pressa
Brinco com o mar num mergulho, enquanto o céu azul cobre todo o planeta
Às vezes as músicas são as mesmas, eu também 

E no fundo do olhar, quando meus olhos tornaram-se candentes, os fechei
Sem mágoas de tempos ou palavras 
Como o velho garoto cheio de alegria que corria pelas ruas 
Ou o homem que usou sua força com benevolência 
E assim o universo conspirou, 
e você dormiu no meu colo
Tudo sem nenhuma garantia, tudo no seu exato lugar.

O que também já se foi

Busco por toda nossa história em minhas memórias
Lembro da primeira vez que você saiu de casa para me receber
E de como eu olhei para o seu quarto, a cama embaixo da janela
O filme dúbio, e como emanava de ti uma energia que buscava a mim.

Você roçou em minha barba como um velho amante
Eu nem sabia quem era você

Lembro das noites e dias quentes
Da presença incessante, do olhar
E, ah, lembro do cheiro do teu corpo sempre bem lavado
Tua voz firme, e os banhos que acalmavam tuas raivas

E raiva, lembro dela em mim
Ela que foi embora, e deixou meu corpo vazio
Corpo que se encheu de gratidão
Gratidão pela noite que me viu chorando e esqueceu seu sono

Você é lindo, meu amigo
Lindo o teu grande coração
Torço com alegria pela tua paz
Pelas tuas vitórias internas

Quem sabe um dia a gente vai se encontrar, quem sabe não mais
Mas de ti só guardo as coisas boas e o calção azul
E isso é tudo o que importa.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A poesia das bruxas

Que mágica me diz teus doces lábios
Que feitiço me lanças como agulhas invisíveis
E percorre tudo que sou e penso

Que bruxarias esconde o teu olhar
Ora ávido
Ora exausto

Me pergunto o que lancei em ti
O que gritei em sussurros quando nos balançamos como as folhas ao vento

Que energia sagrada ou animal nos possuí
A ponto de estarmos aqui, variando noites sem fim.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O beijo imaterial

"Fecha os olhos
Você lembra dos meus lábios?
Do formato?
Eu estou beijando você agora.
Consegue sentir? É bom?"

Nós somos as margens do mesmo rio
Você a direita, eu a esquerda
O rio é o nosso encontro
e corre para o horizonte, onde qualquer coisa pode surgir

Existe um lado escuro em ti
Existe o obscuro em mim
E todas, todas as cores

De pé aqui, percebo altura e profundidade
Advindas de dez direções, como a circunferência da terra

Algo sagrado pode acontecer.

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...