segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Condição

Deixei você entrar
Fazer parte
Estar
Deleitar-se em mim, sobre mim

Me apliquei em você
Como agulha fina
Me implicando sobre a pele, o gosto, gozo

Assim vou entrando
Como fogo que se espelha
Como vento que refresca e toca tudo ao redor

E fico aqui, aí, onde estiver
E somos dois, dois, um
Também somos mil, mil e cem
Tão loucos e tão normais, como se tudo fosse natural

Deixei você entrar e ficar como uma experiência sinestésica
Como se fosse a pessoa mais certa
O sentimento mais tranquilo e arrebatador
Como se fôssemos essenciais
Como se acabasse o ensaio e estivéssemos prontos, finalmente, para o palco principal

E como se tudo chegasse ao final
Do que foi antes, dos quatro ciclos de sete
Mas sabendo que tudo se trata do começo, recomeço
Reconheço.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Todos os reinos

Há alguns dias o céu segue nublado
Meio cinza claro, impedindo a passagem direta dos raios de sol
O tempo está mudando, os tempos estão mudando
Converso com meus amigos de uma forma diferente, como se tudo tivesse se transformado

No dia antes da chuva, um amigo me disse: deixa que isso brilhe, você não tem nada a temer
E tudo desaguou em rios tranquilos
Mas não existem pés sem calos
Isso está ficando difícil de entender, não é mesmo, meu caro amigo?

Talvez eu queira sair dos círculos que minhas palavras formam
Das fôrmas e formas que costumo tomar aqui e acolá
Tudo é sempre tão passageiro, tão assustador e tão bonito

Fico querendo compor essa música e tocá-la perfeitamente
Fico querendo conseguir tudo isso que nunca tive
Mas quando tentamos agarrar algo, aquilo já escapou...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Aonde estamos indo?

Ele nunca é elusivo
E eu me pergunto o que são as coisas que nos deixam vazios além de nós mesmos
Eu estou acordado, mas por quanto tempo isso persistirá antes de se tornar um dado matemático

Eu sou elusivo
E me pergunto quanto dele está de fato acordado
E qual é o acordo entre nós?

Nada é falso
Além dos meus lapsos de tempo e meus sustos quando pareço não tocar o chão
Alastrando a mesma história pelos meus últimos caminhos
Como se mostrasse dentro da caixa o brilho incessante que fico guardando

Verde e dourado
Essas são as cores do nosso esconderijo
Esconderijo em lugar algum
Quanto tempo leva até esgotarem as fichas de uma ligação com você?

sábado, 3 de dezembro de 2016

Alquímico

Dezembro chegou ao mundo com pavor 
E eu caminhando cheio de amor
Quantos homens consigo mastigar?
Sem evitar nenhum olhar

Costumava pensar no tempo como o senhor de tudo
Exato e perfeccionista nos mínimos detalhes 
Acredito que errei e sigo errado sobre minhas suposições 
Quem somos nós para mensurar em dias, semanas, anos ou décadas
Se a centelha da vida segue um curso imprevisível?

Olho para todos os lados
Sou amigo de quem, meu bem?
Com todo esse sentimento humano que carrego comigo
Sento nos bancos das praças ventiladas, sem pressa
Brinco com o mar num mergulho, enquanto o céu azul cobre todo o planeta
Às vezes as músicas são as mesmas, eu também 

E no fundo do olhar, quando meus olhos tornaram-se candentes, os fechei
Sem mágoas de tempos ou palavras 
Como o velho garoto cheio de alegria que corria pelas ruas 
Ou o homem que usou sua força com benevolência 
E assim o universo conspirou, 
e você dormiu no meu colo
Tudo sem nenhuma garantia, tudo no seu exato lugar.

O que também já se foi

Busco por toda nossa história em minhas memórias
Lembro da primeira vez que você saiu de casa para me receber
E de como eu olhei para o seu quarto, a cama embaixo da janela
O filme dúbio, e como emanava de ti uma energia que buscava a mim.

Você roçou em minha barba como um velho amante
Eu nem sabia quem era você

Lembro das noites e dias quentes
Da presença incessante, do olhar
E, ah, lembro do cheiro do teu corpo sempre bem lavado
Tua voz firme, e os banhos que acalmavam tuas raivas

E raiva, lembro dela em mim
Ela que foi embora, e deixou meu corpo vazio
Corpo que se encheu de gratidão
Gratidão pela noite que me viu chorando e esqueceu seu sono

Você é lindo, meu amigo
Lindo o teu grande coração
Torço com alegria pela tua paz
Pelas tuas vitórias internas

Quem sabe um dia a gente vai se encontrar, quem sabe não mais
Mas de ti só guardo as coisas boas e o calção azul
E isso é tudo o que importa.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A poesia das bruxas

Que mágica me diz teus doces lábios
Que feitiço me lanças como agulhas invisíveis
E percorre tudo que sou e penso

Que bruxarias esconde o teu olhar
Ora ávido
Ora exausto

Me pergunto o que lancei em ti
O que gritei em sussurros quando nos balançamos como as folhas ao vento

Que energia sagrada ou animal nos possuí
A ponto de estarmos aqui, variando noites sem fim.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O beijo imaterial

"Fecha os olhos
Você lembra dos meus lábios?
Do formato?
Eu estou beijando você agora.
Consegue sentir? É bom?"

Nós somos as margens do mesmo rio
Você a direita, eu a esquerda
O rio é o nosso encontro
e corre para o horizonte, onde qualquer coisa pode surgir

Existe um lado escuro em ti
Existe o obscuro em mim
E todas, todas as cores

De pé aqui, percebo altura e profundidade
Advindas de dez direções, como a circunferência da terra

Algo sagrado pode acontecer.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O poema

Não tive medo de te olhar nos olhos
Em verdade, eu bem sabia que poderia fazê-lo o quanto quisesse
Tu não é do tipo que fica assustado, disfarça bem teus medos
Eles não transparecem no olhar

Inclusive, o olhar é tua coisa mais forte
Dissipa ao exterior toda a força da terra dentro de ti
Tua empolgação comedida consegue contagiar
E te entrega nos mínimos detalhes, na expressão facial que age em conjunto com as suaves inflexões de sobrancelhas e lábios
Lábios róseos como flor, delineados e macios, em palpite

Que belo és esse teu rosto comprido e pálido
Que belo és esse teu interior
que emerge como as ondas de um mar violento a cada instante em que tua controlada mente expõe uma ideia ou ideal

Diante de ti sou quase um manual de instrução
Que tocas com as mãos quentes
E lê com os olhos dóceis de quem não é doce

Defino-te como intensidade
a de uma tempestade de verão
Que lava e esfria tudo que está fora
Mas acalenta e aquece por dentro

Sobre ti eu escreveria mil palavras
das tuas palavras, dos teus olhos e olhares, dos teus silêncio
dos teus medos, coragens, das tuas batalhas, resistências

Sobre ti escreveria mil palavras
como um deleite pessoal meu
uma forma de transformar qualquer coisa que exista em mim
que por experiência se faz desnecessária

E assim és tu
a coisa criatura humana que me faz transbordar de mim, para mim
Que não se ata ou enlaça, nem dá nó, mas deixa marca.

Olhos abertos

Acordei um dia e dentro de mim havia um belo homem
Daqueles de olhar intenso e voz firme e suave na medida
Um homem que tem coragem de dizer quem é e assumir o que não sabe sobre si mesmo
Daqueles homens que sabem o quanto valem e conhecem assumidamente seus defeitos

Levantei da cama e por dentro de cada parte do meu corpo havia um outro tipo de homem
Um homem que nunca havia habitado aquele lugar antes
Daqueles homens que enxergam seus grandes medos e não param por causa deles
Daqueles que dizem o que sente

Acordei e vi um homem que fala assume seus erros e pede perdão
Daquele tipo de homem que não foge do que precisa enfrentar

Saí da cama e era um homem capaz de fazer qualquer coisa
De ser gentil com qualquer tipo de criatura
De impor aquilo de mais nobre que lhe ocupasse a mente

Acordei homem, como sempre necessitei acordar.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Impotente

Cheio de emoções da raiz da coluna até os olhos
Peito cheio de água quente e voraz...
Eu não posso salvar ninguém
Não consego guardar alguém no bolso e proteger de tudo e de todos
Essa é a lei da vida.

Penso no menino sozinho na praia
No homem sozinho cuidando dos carros e com saudade de casa
Na Akira solta e sem dono em pleno Campeche
No garoto tão cheio de fome que não consegue estudar

Tento engolir sem mastigar tudo o que não posso fazer.

Tento correr em direção as minhas promessas, mas bordas são muito espessas
Bato contra as ondas do mar e sequer te tiro da água

Não cabe a mim, não é meu papel
Mas meu coração e minha alma insistem em não aceitar minhas fraquezas
Talvez agora entenda você
talvez agora entenda a mim mesmo.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

F

Quem sou eu para você, querido?
Quem sou eu?
Você irá contar histórias sobre mim por aí?
Você lembra de mim ao dormir?

Quem sou eu para você, querido?
Você recebeu minha carta?
Você ouviu a música que eu fiz para você?
Quem sou eu?

Nesse mundo cinza, que cor eu represento?
Para você, que cor eu represento?
Que tradução eu poderia ser?
Nesse mundo cor cinza.

domingo, 13 de novembro de 2016

Meio Louco

As vezes dá uma agonia ácida, meio quente
Um aperto nesse peito que chora, mas com olhos secos bem acima
Como um vendaval que não se move por não encontrar espaço
Como uma explosão sem vestígios

E na correria do sentir, penso
Que nem tudo é tão apressado
E que, mesmo que fosse, agora não é o último dia ou o último tempo

Por vezes os sentidos nos pregam uma peça
Aquilo que a gente vê ou que passa por perto nos engana
E eu sempre nesse verbo em terceira pessoa
Como se eu pudesse saber

Mas então respiro
Deixo ficar e deixo ir
É só mais uma vez, nem primeira, nem última.

domingo, 6 de novembro de 2016

O Dia que Passa

Me pergunto o quanto desses anos foi unilateral
O quanto desses anos fui enganado por tudo isso que passou
O quanto minha intuição estava certa
Quanto e quando eu vi apenas o que queria ver

Percebo os raios de sol que invadem a sala através da cortina fina e clara
E o vento do ventilador como um sopro de alivio morno e insuficiente
Escorre em mim o que há por dentro
E me o pergunto o quanto de todos esses anos foi unilateral

Se foi, se não foi
Que diferença isso faria

Me pergunto apenas para escrever
E não dizer nada

Me pergunto apenas para lembrar a mim mesmo de que nem tudo é assim
Como eu entendo, como eu digo ao espelho
Daí se torna real a ideia de que nunca saberei
Como o segredo do universo, como o segredo da vida, como o segredo dos Deuses.

Gritos e Vidros Intactos

Certas épocas me percebo em círculos
Como um bicho que persegue o próprio rabo
Ou preso em padrões que repetem a mesma forma
De novo e de novo e de novo

Rolo timelines infinitas vendo as mesmas coisas
Não me surpreendendo com nada daquilo
Meus silêncios me cercam, como se fosse cego
Mas algo dentro de mim grita

Não seja genérico
Não se deixe anestesiar
Não caia no mesmo buraco
Run, rabbit, run

Olhe no fundo dos olhos, Não desvie o olhar, Diga o que sente, Se expresse!

E volto aos silêncios
Seus e meus, de todos nós
Percebo-os como facas amoladas que ferem a espera
Me perco nos pensamentos e nos círculos, nas timelines e nas minhas próprias palavras

Assim a noite chega tardia, quente e sufocante
Mas então fico mais próximo de um novo dia
O que realmente importa?

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O choro

Ele chorou nos meus braços
No meio do abraço, ele chorou
Como uma criança com medo
Como uma bomba que explode tudo o que o peito não consegue mais conter.

Não poderia amá-lo, pois já o amava
Não poderia me apaixonar, pois de paixão meu peito já estava cheio.

Ele chorou no meio do abraço e eu entendi todas as coisas
Ele contou todos os segredos
E finalmente enxerguei os meus.

No meio da noite, o choro cortou o abraço
E depois disso só restou uma única necessidade: aquele abraço.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Matangi

Você vai ver, menininho
Para você que tanto duvidou
Que por muitos e muitos anos não acreditou
Que se esquivou e se isolou e tornou-se iceberg
Você vai ver, meu querido
Irá me ver triunfar, como a lua triunfa sobre o mar, sem guerras
Irá me ver vitorioso até nas derrotas
Com uma alma que brilha
No meio do cemitério de todos os medos
Tu vai ver, menininho, vai ver.

Reino dos Dias

Mastigo com força e por horas
Sentindo as camadas dos sabores em cada parte da minha boca
Destruo entre os dentes cada um dos meus dias, das minhas experiências
E sinto o sabor agridoce dessa vida louca

Engulo sem medo o sabor doce de cada sorriso
Também engulo o fel dos piores dias e deixo meu suco gástrico dissolvê-los

Como um animal faminto levanto e avanço por todas as horas
Me escondo como uma presa ao anoitecer
Mas sei que bem lá no fundo o medo é apenas mais um passo a subir na escada, ou um campo aberto onde posso correr em direção ao horizonte, para todos os lados, sem rumo, sem prumo

Não me preocupo mais com tudo aquilo que não posso resolver
Afinal de contas, tudo está acontecendo como deveria acontecer
Todos os dias irão amanhecer.

Plexo Solar

Subindo pelos meus pés posso sentir o que a terra emana
Aquilo que me nutre, que me faz entender o ser
Aos mãos para o alto me conectam com os sete céus
Transformando todo esse campo ao meu redor

Contemplo a beleza do universo como um apaixonado observa o rosto da pessoa amada
Eis-me assim e aqui
Contemplativo como um Deus que se sente infinito

Batendo os pés no chão como um chamado a Gaia
Me estendendo como quem clama a todos os Deuses

Deitado no chão meu corpo em chamas vira pó
E do meio do meu peito surge a força de uma fênix
Como uma fera que sara suas feridas

E a vontade interminável de viver ilimitadamente

domingo, 9 de outubro de 2016

Despúes de la canción

Te dejo en mis pensamientos,
Como una idea equivocada de ayer
Y se quedan en el pecho las indecisiones
Los huesos llenos con mis pérdidas

Acuerdomé las palabras que decimos
Y veo que olvidamos casi todo
No tenemos calor ningún
Como extranos que nunca miraron un al outro

El tiempo pasa y te vas
El tiempo pasa e yo te dejo ir

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Pela Janela

Cruzo a cidade
Cortando ruas, inchando os pés
No carro, em ônibus, de bike
Deixo o suor escorrer
E me alívio com o vento pela janela

Cruzo a cidade como se estivesse em uma aventura
Corto ruas contemplando tudo que está ali
Tudo que está por vir

No peito de dor, não esmoreço
Não é certeza vã
É convicção de que amanhã é outro dia
Outro tempo, outro eu

Aventuro-me de peito aberto
Esmagando os medos com as mãos, com os mantras
Cruzo a cidade, uma das minhas cidades
Corto ruas por diversão
Encontrando um segredo em cada lugar

Deixo o verão pra mais tarde
Amanhã colho primavera

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Mesquinhos

Somos cruéis
em um mundo de guerras e bombas
suicídios e caos
Seguramos o amor

Prendemos o amor dentro de nós como passarinho na gaiola
Impedido de voar, de chegar nos horizontes infinitos

E lá estamos nós, sozinhos à noite, agarrados com o travesseiro
Por que somos homens que tem medo de outros homens
Medo do amor,
medo de amar

Medíocres e patéticos escondemos os sentimentos bonitos lá no ínfimo da alma
Apertamos nossos corações até que ele tenha um infarto emocional
Até que o sangue do afeto pare de correr livre

Loucos por sermos deveras normais, comuns, indiferentes.

domingo, 18 de setembro de 2016

Compasso de Menino

Vento frio no corpo gelado
Enquanto a melodia do samba vai sumindo
E fico aqui, sozinho, com a balada triste
Viola que chora melancolia

Minha mente busca rotas de fuga
E desaparecem todos os pensamentos que me prostituem
Fico apenas aqui, parado, sem bulir com nada

Aperto os lábios enquanto travo a língua de silêncios
O peito cheio, preenchido de tudo a dizer
Sem chorumelas eu deixo ir o que não foi

Vem aqui solidão, encosta em mim
Dança comigo todo o refrão
Deixa o preto velho e o nha nha
Ao nosso redor abençoar... que noutro dia nós vai pro mar, pr'amar

sábado, 17 de setembro de 2016

Amar alguém

Quando você ama alguém, você fica.
Quando você ama alguém, você fica.
Quando você ama alguém
Quando você ama alguém

Mas se você vai embora, você apenas vai
Você não precisa de acordos ou promessas
Quando você vai embora, você não precisa provar  coisa alguma
Afinal de contas, você foi embora

Um ato vale mais do que mil palavras

O que você faz fala por você, mesmo que você se cale por cem anos

E depois de algum tempo, o seu silêncio esquecido não terá valor algum.
E se alguém ainda fala sobre isso, talvez ainda lembre.
Mas nada mais certo do que o esquecimento flutuando na nuvem do futuro.

Por que quando você ama alguém, de alguma forma, você fica.
E se você vai, bom... Você já foi.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Factual

Não fiz o que eu precisava fazer
Não fiz
Não fiz nada do que eu precisava fazer
Nada, absolutamente nada.

Ontem eu não fiz, até agora não fiz nada

O que isso diz sobre mim?
O que eu digo sobre mim mesmo?

Não fiz nada do que deveria fazer.
Na verdade, fiz tudo o que não devia.
Tudo o que eu não devia fazer
Não devia fazer
Não devia.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Quando vamos estar prontos?

Se você jogar a sua expectativa pela janela do vigésimo andar, eu lá embaixo, na calçada, vou apenas desviar, pq não tenho nada a ver com isso.
E se você correr atrás de mim bradando todas as coisas que eu deveria fazer
Ou ditando que tipo de pessoa eu deveria ser
Eu vou apenas sorrir e te dar uma piscadela.

As coisas são assim esses tempos
Nada de injustiça na minha sacola
Muito menos os pesos que não são meus
Sento na primeira fila da escola da vida
Qualquer um deveria saber.

Meus erros são meus
Minhas expectativas e desejos também
Você não precisa me alimentar ou dizer que sou seu credor
Afinal de contas... tudo é passageiro
E toda essa sua preocupação na cabeça só te faz estúpido.

Então beija a minha boca e dança essa música comigo
O resto são apenas pequenas partículas que, mais cedo ou mais tarde, se vão.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Ventando

Assim como com a água me relaciono com o vento
Tento entender suas indicações
Regojizo nos afagos que ele me faz inesperadamente
Transformando momentos perdidos em claridade e frescor.

Gosto de ventanias
As vezes sou vendaval
Nos dias mais simples passo como uma brisa.

Me relaciono com o vento e me confundo com ele
Ele sou eu, eu sou ele
E assim sigo, como um tufão veloz ou uma tempestade de areia
Tudo vento.

Vento que traz, que leva, que bagunça e coloca em outro lugar.
Vento de mudança,
Vento movimento
Que faz minha alma se identificar.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Realidades

Se você não vem quando eu preciso
Eu realmente não vou precisar de você
Por quê um abraço partido, partiu
Um laço desfeito, desfez
E o tempo leva tudo embora
Tudo embora, tudo.

Eu também vou embora, sim
E talvez não espere que você venha
Talvez eu espere que você não me chame
Talvez minha ilusão seja crer naquilo que um dia vislumbrei
Talvez meu erro seja achar que eu ainda preencha um texto com um sentimento de quase

Verissimo disse: É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
E eu, eu não estou mais para o quase.

Sonolência

Eu estou parado
Eu estou parado com meu coração em minhas mãos
Parado com o meu coração nas mãos
Eu estou parado
Paralisado e entorpecido.

Sinto com minhas mãos meu coração que pulsa lento, quase parado
Em meu peito vazio eu sinto uma corrente de ar, como um sopro do nada
Sinto com minhas mãos, parado, meu coração

Ouço, eu ouço o sangue que pinga pontualmente no chão
Ouço o sangue, eu ouço o sangue
Que pinga pontualmente
Tudo é silêncio
Tudo em mim é silêncio

Estou completamente bêbado, mas não bebi um gole
Estou bêbado, eu estou
Bêbado com meu coração nas mãos
Sentindo meu sangue pingar
Uma gota de cada vez

Não ouço nada
Não vejo
Meus olhos estão fechados
Eu nem tenho olhos

Eu estou aqui, de pé, parado
O palco me engoliu e eu deixei de sentir naquele exato momento em que senti tudo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Nenhum Abraço essa Noite

Sentado na cadeira de balanço observo a rua vazia
Rua que segue como uma ladeira e acaba em um caminho após o horizonte
Escuro como a noite
A lua brilha cheia de luz e eu me pergunto:
aonde isso tudo pode nos levar?

Onde isso tudo pode me levar?
Afinal de contas estou sozinho.

Então agora que ser a única estrela no céu não me incomoda mais
Agora que todas as noites são um milagre
Agora que a água em mim balança levemente para lá e para cá
Agora que nada se foi, mas nada está mais aqui
E agora?

Fecho meus olhos e vejo o traços da rua vazia ainda em minha visão
Tudo é tão cheio de luz, mas as pessoas tão vazias de vida
Rua vazia, pessoas vazias
Onde eu irei para me nutrir de amor?
Onde irei?
Onde?

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Amendoim

Quero pensar por mim mesmo
Sem recorrer a grandes sábios.
A sabedoria interior as vezes é o bem mais precioso

Quero decidir por mim mesmo
Sem dados ou par ou ímpar.
Quero deixar aflorar a intuição e escolher sem receio.

Quero estar integral por mim
Sem buscas, sem insatisfação.
Apenas refocilar na completude que o homem é capaz de possuir.

Afinal de contas isso tudo é uma imagem matrix fornecida pelo ego
Nem sempre o que os olhos vêem e a memória clama é o que é realmente bom
Nem sempre o que fez bem no passado funciona no presente
Nem sempre a saudade é uma boa escolha

Enquanto algumas companhias pesam
Outras só te fazem sorrir e flutuar
Eu converso com qualquer da rua.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

de repente chorei outra vez

não posso acariciar gatos
e pra mim isso é uma dor
pra mim isso representa tudo aquilo que não posso proteger
tudo aquilo de mais indefeso no mundo

não posso acariciar gatos e isso me faz querer chorar
isso aperta o meio peito
pois me lembra todo o amor que já deixei de dar
e deixar de dar amor é realmente um motivo de choro

não posso acariciar gatos e isso me lembra o quanto estamos todos separados
o quanto nós, seres humanos vamos deixando de ser humanos
vamos nos padronizando no que é certo e errado
no que deve ou não ser feito
vamos criando amarras, delimitando eu te amo's
deixando para depois o amor que poderíamos dar 

não posso acariciar gatos, mas começo a pensar que um pouco de coceira vale a pena
começo a ver que desde que deixei de me reconhecer, passei a conhecer a mim de verdade

não posso acariciar gatos,
e não posso deixar de ser humano e, talvez exatamente por esse motivo,
não deva deixar de acariciar gatos. 


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Adeus, para sempre

Eu abri meus olhos
Estou completamente nu, nessa noite escura
completamente só, nesse frio
sem pestanejar sou absorvido por todas essas estrelas
não mais uma estrela solitária, todas elas em mim.

Atravessando a noite escura em direção ao grande sol
um homem que nunca fui enxergando o homem do passado
vejo o menino no espelho e nos encontramos em passos de dança
o carrego aqui e continuo pela escuridão
as partículas de luz me rodeiam, como um prenuncio do que está por vir.

Mergulhando no lago de água gelada
minha dor reflete a lua e compreendo...
nada, jamais, será o mesmo
memórias foram varridas, buracos tapados, os gritos se tornaram silêncios
É preciso dizer adeus, finalmente. 


sábado, 30 de julho de 2016

Instáveis

Essa lei do eterno retorno
Mente nietzschiana gritando
Em um corpo em espasmos.

E não tem nada a ver com ninguém
É meu, é em mim, sou eu.

Poderia correr 10km com a adrenalina
Ou passar três dias inteiros sem sair da cama
E aqui estou eu, repetindo ciclos
Vivenciando a grande frase de Chico
Tudo passa

E isso, ah, isso com certeza também passa.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Thinking of you

eu escrevo sobre você
esse é o grande sinal
eu escrevo sobre você
porque você é o meu eclipse

raio de sol com várias cores
muitos tons de âmbar
cheio de brilho
quente como o sol

e isso me enlouquece
ou talvez só me deixe inquieto por dentro
no melhor estilo Rose DeWitt Bukater
Brando, ameno e comportado por fora, mas por dentro correndo até a proa do navio

E você me olha e fala que o mar é cheio de peixes
E eu penso que deveria mergulhar ali então
Mas quando vem um outro gosto, eu lembro do seu

Eu nem sei como isso soa
Mas sei que não é simples
É labiríntico
Estamos presos
E só vai piorar. 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sobre Esperanças

Lembro de um presente que ganhei quando criança
Era meu aniversário de sete ou oito anos
Uma fita K7 de uma dessas bandinhas famosas na época
Não lembro de nenhum outro presente daquele ano
Apenas esse.

A fita era amarelinha, comprada na feira
E todas as músicas falavam sobre sonhos, amor
E sobre ser criança com um mundo de sentimentos
Fazia parte de um universo de inocência
De amor, cuidado, brincadeiras e fantasias

Vinte anos depois, estou deitado na cama
Ouvindo aquelas músicas em um app de layout obscuro e adulto
E com um sorriso no rosto de sentir, depois de tantos tempos amargos, uma inocência crescente dentro de mim
Como se voltasse a ser aquele menino ingênuo e tão amoroso
Como se a partir de agora eu pudesse ser qualquer coisa mais uma vez


segunda-feira, 18 de julho de 2016

O balançar da Gaivota

Não sei
mas por um momento, em algum momento, eu não era eu
Algo no olhar, algo em mim que não era meu
Não me reconheci
Algo que aconteceu e sequer percebi
Eu também não era você, mas era outro

Espelho quebrado ou um novo espelho
Refletindo algo de desconhecido em mim
Um outro rosto, mais torto
uma outra pele, um outro gozo

Pensei na minha mãe, como forma de me apegar ao que sempre fui
como uma maneira de encontrar o familiar
Mas nem família resolveu
Não fui eu

E fiquei parado, ouvindo a música nunca tocada antes
Apenas respirei e não senti absolutamente nada
Foi meu fim.

sábado, 16 de julho de 2016

Um céu azul

E quando se é luz, não se pode escapar de ser também escuridão
E assim aprende-se a dosar
E se chora pelos sonhos que se foram
E sorri por todos os caminhos a seguir
E sente os acasos da vida
E enlouquece dentro do quarto
E observa a lua
E a lua te observa de volta

O momento

Sonhei que abraçava uma amiga antiga
Abraço sincero, caloroso, desses que você ama

Acordei e a minha primeira música foi da Corinne
Por pensar que todos os dias são uma aventura nossa
Que a vida se define mais na forma em que a enxergamos

Eu percebo as culpas em mim e as deixo escorrer
Como algo que não faz parte de mim
Minha liberdade só quer alegria, mesmo na dor
Não tenho um coração flexível, ele existe apenas para ser partido
E tudo isso me faz aprendiz

Com alegria eu ouço todas essas coisas ao redor
Todos esses pensamentos e opiniões diferentes dos meus
E só sorrio, afinal de contar, essa é a selva dos deuses

E sempre vai existir, na esquina da vida ou do sonho, um caloroso abraço de um velho amigo

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Amanhecer

Escrevo sobre horas que passam e horas que se vão
No céu tudo parece belo e arrebatador
E a dor? Se foi?
Se esvaiu por algum buraco na terra, se espalhando pelo universo.

E agora eu estou aqui, vendo a vida passar, parado, com tranquilidade
Observo atentamente tudo em meu peito, meus sobressalto, as crianças na rua, as pessoas apressadas
As vezes fecho os olhos e apenas sorrio
Da mágica de tudo isso, dos acasos, descasos e de como as coisas precisaram acontecer

Meia-noite quando as águas são mais escuras
Vejo o reflexo das estrelas na água refletidos de volta ao céu
Assim é minha vida.




terça-feira, 12 de julho de 2016

Deixa o Verão

Que coisa mais louca
Que louco é você
Que loucura eu faço
Somos loucos e você sequer sabia

Deixamos o verão ou mergulhamos nele
Assim, fácil...
que medo silencioso, geladinho, que não existe
Eu, chique-à-vontade, você, cuidadoso-preocupado
Eu escrevendo linhas e linhas, de cenas, de falas, de sala de ensaio sem luz
Você pilotando aeronaves

Que loucos nós dois somos
E você nem sabia que era louco, ou eu nunca soube
e nem sabia quem eu era
Em tantos anos, tantos mesmo

Como uma baladinha gostosa de ouvir
E um drink gelado sem álcool
Nesses olhares sóbrios e profundos
Nesses olhos cor de âmbar
Nem fujo... apenas boio sobre a água, sendo o que eu realmente sou

sábado, 9 de julho de 2016

Verde Afrodisíaco

Diga o que você sente
Diga o que você sente
Diga o que você sente
Por favor, diga o que você sente

Antes que meu estômago se afogue em ácido
Antes que essas quatro paredes me esmaguem sem uma porta de saída
Antes que eu destrua minha garganta em canções
Antes que o dia escureça mais vez

Não sinta medo de mim
Não sinta medo de mim
Por favor, não sinta

Vejo aquele rio. Você também o vê?
Vamos, me dê sua mão. Pulemos!
E enquanto eu corro sem minhas roupas
Você corre pelas suas
E enquanto sua risada corta minha audição
Eu quero apenas tudo isso que parece com o vento

Sem violência adentraremos todo esse verde ao redor
Você pode sentir os mosquitos.
Mas não se preocupe, da base ao topo eu estarei lá.
Estarei até não estar mais.

Luzes apagam com um sorriso.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

So we walk alone (ou O que eu pediria a você?)

De braços abertos, só podemos olhar para frente
Hoje, nesse dia quente, nessa noite escura
Buscando as estrelas no meio das centenas de luzes espalhadas pela cidade.
Viva, viva, viva
E quando der vontade de chorar, chore, grite e soque o travesseiro.

Nada, nada irá mudar o passado.
Não saberemos do futuro antes dele se tornar o presente.
Uma parte de mim se foi, mesmo sendo tão bem-vinda
Todo o resto continua aqui em mim
Outro outra vez, aprendendo a ser outra vez

E o amor no cérebro habita agora apenas o coração
E o sofrimento que percorre as veias desaparece a cada expiração
E eu só quero muito dançar e brincar por aí com todos esses rostos que eu tanto amo

O melhor jardineiro para nosso jardim, é aquele que realmente ama sentir a terra nas mãos
Ama suas próprias plantas e cuida de tudo aquilo desde a semente mais bruta até flor mais sensível.
De braços abertos, só podemos olhar para frente.
Olhe para frente.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O final

Comecei a pensar que o medo me fez bem
Ele me levou a lugares tão escuros e solitários que encontrei a luz
Como um veneno, que mata, mas também cura.
Todos os medos emergindo em mim, como a erupção de um vulcão.
Como o magma que escorre pela montanha e chega até o mar, deixando um rastros de destruição
Destruição que permite novos espaços para construção.

Sou grato, e quanto mais agradeço, mais motivos enxergo e surgem para ser grato.

Evoé.

domingo, 26 de junho de 2016

No escuro

E todas essas cores que estavam em mim se foram
Junto com os corpos e os toques e essas melodias que ecoam pela minha audição.
Estou no escuro, sozinho, ouvindo coisas que não conhecia
Enxergando lados meus que são brandos
Que se manifestaram e se encontraram no meio do conflito e das guerras internas.
Sou outro outra vez.
E se você pensa que estou ficando, esperando ou indo embora, estamos todos enganados.
E se você imagina que amanhã ou ontem... você está enganado.

É que me sobra humanidade e luz
É que me abracei durante o choro
Durante o medo
É que a noite chegou em mim e me tomou
E a luz do sol me banhou
É que amo você. E amo a mim.
É que em mim estamos perdoados.

E no escuro, a noite, meu bem
Me transformo
E a lua brilha sim.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Miss Ives

As vezes nos apaixonamos por aquilo que não existe
Por aquilo, ou aquele que vemos através de uma tela
Por algo que sequer é real, por um personagem, uma forma de olhar
As vezes nos apaixonamos pela identificação que a ficção nos causa.

Te estranhei, repugnei... teus olhos, tua fraqueza
Toda a escuridão e lascividade que emanava em cada passo
Perseguida pelas sombras, afrontosa, vil
E principalmente... absurdamente... lamentavelmente solitária.

Se olhava no espelho e via solidão, sentia a dor no peito por não alcançar com firmeza a luz que tanto clamava
E mesmo assim, inevitavelmente talvez, me apaixonei,
Assim como a criatura fez o homem, a besta, a criatura
Pela sua esperança, pelo magnetismo que dizia: não posso ser, e nunca serei, apenas uma coisa

Te enxergava como quem olha nos próprios olhos através do espelho
E queria ver seus passos até o fim
Tudo como uma doce e obscura ilusão
Mas é isso, apenas, que o poeta sabe fazer, chorar... e em alguns momentos escrever...

Cinzas

Eis-me aqui novamente
Amolecido pelo calor da dor
Rígido pelo mesmo motivo
Homem inteiro, de braços soltos, destensionado e cheio de cicatrizes.

Eis-me aqui por completo
Fera, ferido e curado
sentindo nos raios de Apolo o outro lado de perder

Pergunto-me, não seria a culpa apenas abjeto daqueles que nós querem presos?

Sou eu o novo eu, o velho eu e tudo aquilo que finda e abre espaço ao que estar por vir
Eu sou o que clama e é ouvido, que pede e tem o corpo apertado contra um peito
Abençoado, filho de Apolo e Dionísio
Filho do que vem do amor, da celebração e da paz

Eu sou aquilo que é feio e que é bonito, que é triste e que também sorri
Não mais, nem menos do que qualquer um é.
E digo: a diferença entre os homens não jaz em sua visão ou falta dela, mas sim entre aqueles que ouvem e os que estão surdos.

domingo, 19 de junho de 2016

Quase verde

Eu não vou clamar por algo diferente
Muito menos apontar o que estava errado
Prefiro deixar que os ventos levem, os tempos passem
Nem vencedor, nem vencido

O que não pertence ao deserto se vai, morre como peixe fora d'agua

E o que cabe a mim é mergulhar nesse verde vivo, verde mata
Cair em espiral até o desconhecido, como Alice...
Eu poderia ser todas as coisas, mas não precisa ser assim
Nem criminoso, nem vítima.

sábado, 11 de junho de 2016

Aqui, agora

Mas a verdade é cinza em tons alternados, análogos e próximos
Sutil em uma linha divisória fina em demasia
Isso te coloca em corda bamba

E no meu rio de lágrima encontrei a paz
Drenei a água do rosto e enchi a água do peito
Apenas para viver mais, para compreender, ter paz

Sou pedra, rochedo, aporto meu barco em mim mesmo
Acordo como guerreiro, realizo e sorrio
E no meio da mata, quando estiver perdido, eu vou gritar, cair no abismo
Até voltar a si, a mim.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O valor

Você percebe que as coisas mudaram quando seus atos se moldam em prol do bem estar do outro
Quando sua palavra se escolhe mentalmente em função de não ser hostil ou desagradável
Quando pra você o mais importante é que os seus estejam bem, sorrindo.
Quando você evita qualquer coisa que vá machucar alguém.

Vivemos os tempos cruéis do individualismo, nesse mundo dos homens, onde cada tempo tem sua cota extrema de crueldade. A mais atual é essa: pensar em si, em si, pensar em mim mesmo.
Sim, nosso templo é nosso corpo, nosso mestre é nossa mente
Mas não existimos sem o outro, não progredimos sem ele.
Não tem aula sem aluno, não tem laço sem abraço, não tem amor sem felicidade alheia

Vivemos esse padrão de uma necessidade em ser amado com exclusividade
Mas exclusivo mesmo é só aquilo que tem a ver com dinheiro, mercado, economia, material
E você fica assim, sociologicamente, na lógica do capitalismo
Em pensamento, em ação, e o pior, em sentimento.

Somos mais que isso, somos homens, humanos, feitos de carne
Com o peito cheio de sentimento, medo, dor, amor
Somos terra, água, somos todo esse universo que se dispõe para nós, por nós e nos nutre

E já dizia aquele reggae antigo: o valor de um amor não se pode comprar

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Primavera

eu quero ver você sorrir
preciso da sua felicidade, da sua saliva em mim
quero seus desejos se deleitando nos meus
quero suas músicas no meu rádio
e seus filmes na minha TV
seu calor, seu toque, seu cheiro

quero você pra mim, sendo seu só seu
sendo assim como tem que ser
quero eu água, você correnteza, nós dois rio
quero eu pedra, você chuva
você areia, eu vento

quero você de olhos fechados, leve, deitados
quero que o tempo te leve e te traga
sem dor no peito, sem nó na garganta
sem tem por quê e pra quê

para ti pétalas de rosas
poesias e poemas, ondas do mar
pra ti pôr do sol, chuva e o luar

eu assim, suado, sua pele na minha
minha carne na sua
inteiros, entregues, reunidos

Cruel

ela não olhou para mim
correu, pulou, me pisou
parecia um turbilhão de vontades de se auto descobrir
se descobrir em mim
tentou, caiu, pensou
correu sem olhar, derreteu, me encontrou
Foi de mim ao chão, lentamente, tão lento que suas forças iam deixando-a, abandonando-a em pleno cansaço furacão.

olhei para ela
era o sinônimo de tristeza
percebi que eu devia estar triste também
todos deveríamos, em todas as galáxias
mas sempre é mais fácil esquecer, viver de curta memória quando não tem a ver com você
sussurrou "trinta homens"
"trinta e três" repeti me sentindo envergonhado
a noite não era mais a mesma, nem o espaço, nem ela, nem eu
fomos e nos esquecemos

eu queria apenas uma boa notícia, uma sequer...

Turvo

Eu vejo vocês sendo felizes
entre comemorações e viagens, festas e banquetes

Eu vejo você sendo triste
no peito da solidão, nos perdidos que a vida te dá

Observo tudo ao meu redor, no entorno, de lado
O sentido reto a frente, o caminhar, as risadas

Pasmo ao perceber o quanto sou diferente, o quanto sou igual

Vejo vocês sendo felizes e fazendo o que eu queria fazer
Sendo o que eu queria ser
Vejo vocês sofrendo pelo o que eu queria sentir, ou me importar
Ou estou apenas a me enganar
Será? Sei lá

As pessoas são quase como espectros
E eu me pergunto: não sou eu um também?
O mais sem nitidez, o mais cinza
como o céu fechado antes da chuva

respiro sim, pra deixar, apenas, que a vida viva em mim


segunda-feira, 16 de maio de 2016

M

Dizer que é baile de favela
Gueto, perifa, liberdade acelerada
E a vida dela? Que valor tem a vida dela?
De todas elas, da menina solta e desprotegida até a presidenta da república

O mundo é dos homens
E que falta de respeito quando é ensinado que ela deve ser sua
Mesmo sabendo que você veio ali de dentro

Ela é a falta, o buraco a ser preenchido de masculinidade
Ela é frágil, mas será? Todo o suor, todas as batalhas

Você só quer jogar, respeita a sua mãe, mas ataca a mãe dos outros
Protege sua filha, mas ataca a filha alheia
Você só quer jogar, e nunca para pra pensar

Se acha rei e no topo do mundo, imundo
Irreal, desleal. Num planeta em que todos deveriam ser iguais
Homem, mulher, bicho, humano
Mas olhe pra baixo, sempre existe o ser esmagado debaixo do seu pé

Num lugar pesado como esse, falta a leveza no caminhar, no coração
Cadê os menor, e os maior, preparados pra andar devagar ao lado dela?

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Inserido

Meu corpo lavado pela água que veio do céu
Queria ver o mar agora
Lembro da história que um dia me contaram
"corremos da chuva pela areia da praia, a água vinha atrás de nós"
Tantos anos e tanto tempo
Tudo muda, mas tem coisa que nunca muda, não é?

Que venha o vento e o que mais que tiver de vir...

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Dual

sou pesado, meu infinito particular é da imensidão de universos
sou leve, como pluma que segue no fluxo do vento
pesado, como o que te assusta deitado na cama
leve, como quem navega deslizando sobre a água do mar

salgado, com lágrimas, palavras e suor
doce, como o rio, o sorriso, as melodias que canto, que ouço
amargo, como o trauma, como o que me assusta, como equívocos

detalhista, menino malvado, cuidado!

pesado, como sal que queima a língua, como a pele morena banhada de sol
leve, como o olhar de moleque, ou a pele morena no brilho da lua
amargo, como o fluido do corpo e loucura da mente

triangular, piramidal, menino, moleque, homem feito
criança perdida, boba e mimada
expirando, aspirado
ou só inspirado
meditado, esmagado... por si

Ressecado

Ás vezes, assim, de repente
meu peito se desespera
como se águas me invadissem em uma correnteza forte
fico perdido, quase incontrolável
é ele, aquele de nome pequeno, quatro letras, não escrevo mais

mas eu permaneço em mim
firme, ou quase isso
busco nos lugares mais reconditos das minhas lembranças
e repito: sou mais que isso, vou além disso
fui, sou e serei, ainda, amanhã, depois que a lua se for

não mentiria
sutilmente penso
esse batom não deveria estar na minha boca ou no meu coração
mas me dou conta que ele simplesmente está
faz parte de mim, permanece em mim 
serei o mesmo depois que a lua retornar, cheia, nova
minguante, eu, minguando, sonhando, vivendo

terça-feira, 5 de abril de 2016

A carta

Li
como uma criança que descobre um mundo novo em um livro velho
ou o pirata aventureiro que encontra uma arca cheia de tesouros

Chorei
como uma criança com medo de um sonho ruim
como um pirata abandonado pelo verdadeiro amor

Reli, toquei, encostei junto ao peito
minhas lágrimas mancharam o papel

Senti
a pureza, a verdade, o poema
Reparei em cada parte
Busquei o quadro, me desmanchei

!Quis
correr até você
mas cada coisa tem seu tempo
nem sempre sentir é tudo o que precisamos.

terça-feira, 29 de março de 2016

Somewhere only we know

Continuo descobrindo
Coisas sobre mim, sobre minhas formas de sentir
Ano após ano, sofrimento após sofrimento, reflexão por cima de reflexão
Eu continuo me descobrindo.

Eu poderia te dizer todas as coisas que você já sabe
Mas eu prefiro dizer a mim mesmo as coisas que não sei ainda
Preciso da sua estrela, mas preciso da minha luz
Podemos passar os dias brilhando juntos na direção do caminho mais bonito

Se eu dizer que faço tudo certo ou que meus pensamentos são sempre bons
seria só mais um hipócrita
Se eu dizer que sou um homem feito de certezas
seria só mais um grande covarde
Se eu dizer que eu sei quem eu sou
seria só uma falta de atenção de ambas as partes

Deixando de lado o bom e o ruim, restam tantos tons
tantas aventuras, melodias e descobertas
Quem somos nós? Eu não sei, você também não.
Mas quando você me abraça bem forte o mundo para,
e ali, naquela desconstrução de tempo e espaço
eu me sinto pleno

Músicas e Castelos

eu te dou a minha mão
como forma de encontro, de proteção, de entrega
como uma maneira de fazer a certeza surgir, em mim e em você
seguro tua mão como quem necessita, como quem deseja e espera

na contramão o desejo, medo, pique-esconde infantil
duas mãos, muito tráfego, quem me compreende?
saltando nuvens, dançando nos céus
eu poderia ser qualquer coisa

a verdade pessoal é radical, se encontra sozinho
arriscando, aventurando-se
mas o que o espelho mostra agora não é o mesmo de anos atrás
mas o que um era não é o que o outro é

pode entrar e sentar, o melhor lugar está reservado para você.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Quem se é?

O ter é matéria-prima, o ser o instrumento
Na história do homem, ter sempre veio em primeiro lugar
Criando caos e engodos por milhares de séculos, mais e mais
Na minha história, ser é o grande problema

Olho pela minha janela e nada me falta
Matéria-prima em enxurrada, como uma abundante feira
Mas estou pobre de instrumentos
Ser é que me dói, me carece, me enfraquece

Poeticamente parece que me encontro em vias de morrer
Artisticamente meu peito clama por mais força e coragem
As vezes estou ali, no tapete, encharcado de suor, e nada
yoga, psicologia, antidepressivos, ou só sorrir

Existe cura dentro de mim?

terça-feira, 1 de março de 2016

Flor

Assim como a beleza das rosas
segue a vida, frágil e rápida
Assim como a beleza de ser triste
segue a vida, arrastada e quente
Assim como a beleza da paixão
segue a vida, febril e enlouquecedora
Assim vou eu, num piscar de olhos, mergulhando, afundando
seguindo o mar em mim, indo com ele, deixando ir.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Mad world

Saindo de dentro da panela de água fervente
Parece que uma ou duas coisas morreram em mim
Como se minha carne tivesse sido cozida e abatida
Estou cego, um homem que não enxerga um palmo a frente
um menino que mais parece a grande São Paulo, abatida

E o abatimento
e abatido
e abatida
a batida, nem sei mais qualé
Perdi o contra tempo, o jeito, o ritmo

Quem poderíamos encontrar essa noite? Qual seria o compasso?
nesse mundo doente, caótico e maluco
apenas um silêncio ensurdecedor
aumento o som, enlouqueço meus tímpanos, nada acontece

Soque meu peito, eu preciso sentir alguma coisa hoje.

Creep

um louco, perdido, dessignificado 
É preciso saber o ponto certo da batida, como na cozinha
Meus sentimentos todos espalhados no balcão
Sendo cortados por mim mesmo
A faca mais amolada e as mãos cheias de receio

As palavras quase parecem as mesmas
E a vontade, essa coitada bebeu tanto que nem sabe mais onde está
Eu poderia correr a cidade inteira para fugir de mim mesmo
Mas eu me comporto como a Rose nos jantares
alguma hora encontro a proa, sem Jack, por favor

Sou estranho, sou bizarro, nem sei o que estou fazendo aqui
Nem pertenço a tudo isso
Nem sei de onde vim, nem sei pra onde vou
Só sei que como todo o resto, isso é agora, não o depois, nunca o depois
é mais um retorno ao fundo desse grande poço

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Love on the brain

Não importa o que eu faço
Não é o bastante sem você
Penso em ti com ternura, mas parece uma obsessão
algo que não me sai da cabeça por mais de meia dúzia de segundos

Eu paro, penso em tudo e fico em choque
Então volto a funcionar e só quero que você continue me amando
Sim, com certeza deve ser amor infiltrado no meu cérebro, no meu coração, no corpo inteiro
Você entrou pelos meus olhos e ouvidos e apenas se espalhou por cada parte

Você realmente me pegou; e me transformou em algo diferente
No calor do melhor abraço do mundo
Algo em mim se rompeu e metamorfoseou
Se rompeu e tornou-se ainda mais inteiro, derreteu bronze e solidificou ouro

meu clichê é encontrar tudo no seu olhar
no seu toque, quando você me entorna com desejo
e eu só quero continuar te amando
só quero continuar nós dois assim, na mesma página, no mesmo ritmo, na mesma cama.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

come As you Are

Te vi sendo melhor que eu, me admirei
Confesso. Mesmo já sabendo
Me envergonhei também... eu tão pequeno
Concordando com tudo na cabeça
Me debatendo por dentro

Velhos hábitos e velhas formas de ser
Eu apenas sendo um pouco egoísta demais
Eu apenas descobrindo que muita coisa ainda precisa mudar
E você tão bonito nas palavras
sincero como um jardim pela manhã em um verão

Calei, me deixei silenciar
como o adulto que é criança, mas sabe que também não o é... mais.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Há tempos

Me conta um segredo enquanto encostamos um no outro
Você precisa saber das histórias, dos pensamentos, do que eu canto
Minhas canções mais tristes, são as mais belas
Olha pra mim, olha pra mim e enxerga bem no meio

Tenho tantas pontas, tantos fios emaranhados e alucinados
"Muitos temores nascem do cansaço e da solidão"
Então deita comigo, dorme aqui, no meu peito, no meu braço dormente.
Olho pra ti, olho pra ti e sou tão cego

Invento tanta coisa, tantas cores, tantos cinzas
Talvez tenha um coração cheio de ferrugem
Acho que é isso, é exatamente isso.
Vem e canta comigo, bem alto, espantando todos os fantasmas, assustando todos os demônios

Se eu correr, você corre comigo?
Se eu ficar, você fica também?
E se eu fugir? Você me encontra por aí?!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O silêncio das estrelas

Minhas confusões enquadradas em sentimentos
Pensamentos que cutucam minha cabeça com unha fina e grande
Fico sem saber como me compartilhar
Onde abandonar meu peito e as coisas que nele se acumulam
Aquela velha sensação de que ninguém me entende vem sempre vestida da pior solidão
Solidão que parece necessitar de um nome

Eu fico aqui, calculando com fórmulas invisíveis até onde o ser humano é capaz de ir, para o bem, o "mal" e o incrível
Cores sempre destoantes de tudo ao redor
E as falhas tentativas de se encaixar
Será que você... Deixa pra lá, melhor calar
A ilusão é sempre uma camada espessa a ser atravessada
E aqui estou eu, caminhando pelo mesmo labirinto mais uma vez.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Metálico

Me deixa triste lembrar da tua solidão
Da tua casa tão pequena e abafada
Um calor, um odor impregnado

Me causa melancolia pensar em ti
Em tudo que tu podia oferecer a alguém
Em saber que alguém não há

Em dias como hoje, sinto um pouco de culpa
Dessas culpas hipocritas que sentimos em avulso
Dessas coisas no peito que mais parecerem estar na consciência moral

Te estrago em meus pensamentos estragados
Por sentir tão mediocre
E por silenciar, com indiferença explicita

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Religando

Quem iria querer se esquivar do céu
Ele está ali, acima de nossas cabeças, na linha do horizonte
Tanta beleza, sublime como algo saboroso que desmancha na boca
E eu, tão pequeno, arrebatado

À tarde, enquanto os pássaros voavam pelo céu do PICI
E os carneiros brincavam feito criança
Vi um avião planear pelo céu, riscando-o em traço, linha reta
Sentado sobre o carro, apenas observava admirado, espantado

Me senti criança, homem, mulher, me senti ser-humano
Ali, parado, sem ter com o que me preocupar, saúde, doença, não importava
Apenas fui feliz, feliz apenas por ser, por existir, por fazer parte de um todo
Homens sérios e racionais podem até ter mais, mas homens-meninos é que são mais.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Triangular

quando menino gostava de inventar histórias de aventuras
propor fugas fugazes aos meus amigos, explorar terrenos esquecidos, terras de ninguém
gostava de acordar bem cedo e ver o fim do jornal antes dos desenhos
de inventar os clubes mais bobos possível e assistir trilogias de terror com os mais medrosos

quando rapaz gostava de ficar sozinho à noite
me balançar numa rede e ouvir qualquer mpb sentimental que eu tivesse
gostava de expurgar minha raiva e minha tristeza enquanto dançava
de pensar que tinha um amigo e um sonho em cada lugar da cidade

na escola eu não queria saber mais do que ninguém, queria apenas fazer parte
na rua queria inovar em cada brincadeira antiga e tradicional
na cidade da minha avó ser o menino mais louco
nas férias na praia o melhor jogador de sinuca e contador de histórias na madrugada

anos e anos e anos e fui me misturando, sendo tudo que era, não sendo mais, me tornando algo novo, algo duro, quase amargo
"casca grossa, mas por dentro o recheio é macio e quente" você disse
no ir e vir de todas as sensações encontrei uma espécie de segurança pedante em relação a quem eu era, ao que eu conseguia fazer quando realmente queria alguma coisa, me apoiei na habilidade de me fazer desejado, atraente, objetivo
em contrapartida, no ir e vir de tantos sentimentos passei a acreditar que eu não merecia ser amado
que não era bom o suficiente para fazer alguém ficar, para ser visto por inteiro, para ser totalmente honesto

hoje eu consigo ver além dos véus que cobriam meus olhos
consigo perceber o que ignoro e ao que me apego, um punhado grande de tolices
hoje permito a honestidade com quem for, mais vale uma gentileza que um joguinho
hoje sei que mereço tudo, que não preciso me apoiar no que é superficial, mas apenas ser de verdade
hoje não quero sumir, quero somar
não quero quem vem pela metade, quem inventa desculpas,

quero o que vem livre, por inteiro, de bom grado
quero o que some e não suma
quero o que é doce e me faz doce
quero o que me sorri e me faz sorri de volta
quero o que faz eu me perder no tempo e se perde junto comigo
quero o que se faz presente, como um presente
quero o que me torna uma pessoa melhor

quero
e quando não tenho, apenas sou, sem amargor, sem ignorância ou apegos
eu, menino, homem, menino

Central

deixa a vida ser e acontecer
como tiver de ser, em fluxo, fluído
deixa que as águas te levem, mornas ou frias
deixa se banhar, deixa limpar

ontem, amanhã, o que importa
entre as coisas que merecem atenção
valorize o que não se pode perder
a riqueza essencial que está lá no fundo

vai correndo atrás desse teu hoje

deixar a vida ser

deixar e acontecer junto com ela


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Palpitações

que gira, que gira e para
que inquieta, que inquieta e aquieta
que grita, que grita em silêncios

silêncios crus, silêncios nus
de palpitações, precipitações, soluções
do tempo que passa, do fogo que queima, da marca que deixa

vítimas e culpados, tocados, mexidos
deixados de lado, entrelaçados
vítima de mim, vítima de você

quando a porta se abre e você entra, quando a porta se abre e ali estou eu. Tenho medo até de pronunciar o que penso, tenho medo até de não ter medo de nada.

efervescências no peito, queimação do estômago
quando eu me for, onde será que estarei, chegarei, ficarei
quando você se for, o quão longe estará?

e tudo isso por fugir do instante presente, de recusar o presente dado, de evitar o pensamento de que possa estar, possa acontecer, ser. Tudo isso por sentir em demasia o que não recordava-se então. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Mais do mesmo

O que me entrega os dias?
O que entrego aos dias?
Em que me entrego
Como me desmancho pelas mãos do tempo

Debaixo desse sol que me derrete
E aquece essa minha carne fria
De mãos geladas, pareço menino fraquinho
Fracote, bobinho, sem força

No coração farpas de gelo,
homem feito ou homem tolo
Viciado em insistir nos mesmos medos
Inocente, ingênuo e bem perigoso

Visceral escondido no ínfimo
Perdido, preenchido, quase explodindo de palavras, de quereres, de anseios
De tudo e de nada
De tédio e de...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Espaço oco e os vazios

Hoje acordei como se algo estivesse fora do lugar
Não sei dizer o que odeio mais, constância ou a falta dela
Me pego preso pelos dias, pelo que sinto, pelo o que penso
E então me percebo em uma montanha russa, hora está
hora não está, nem paz, nem alegria, nem nada disso.

Me pergunto por quais ruas e esquinas encontro o resto
Olho no espelho e tento enxergar através, como uma cena
Um cena clichê de filme antigo, ou remake
Não encontro respostas, apenas esperas, quem sabe uma afirmação:
Tudo isso acontece dentro de você e por sua causa.

Aponto culpados e descubro que o perdão mais difícil é o que temos que dar a nós mesmos
Quando tudo está em minhas mãos, é torturante largar a responsabilidade
Fico parado, friso tudo que é ruim e caio no chão vazio,
como uma fruta que se espatifa embaixo de sua árvore
Logo, então, rogo por salvação, das minhas entranhas, de tudo o que ferve dentro de mim.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Le parole sono la metá

Palavras, palavras, palavras, palavras
palavras, palavras, palavras, palavras
Leia novamente: palavras, palavras
Palavras são apenas palavras, um conjunto de letras
Uma junção desimportante que as vezes nada diz.
O que importa é o ímpeto, aquilo que aperta teu peito,
se empurra pelo pescoço e explode na garganta, língua, dentes, lábios, boca...
ou apenas cintila nos dedos.

Sentir é só mais uma palavra e eu me pergunto o que ela realmente significa
Significado, medo, alento... palavras.
Talvez isso tudo seja apenas um devaneio, um ouvido cheio de palavras de Cássia
Ou talvez eu queira parar de dizer e apenas deixar ser, chegar de outra forma.
Como se eu quisesse te alcançar em cheio, achar tua fonte escondida,
me lançar, te laçar,
boca, nuca, mão, mente e "o corpo inteiro feito furacão".

Te arder como fogo e te mergulhar como água...
Nos esbaldar

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Castelo de cartas

Um instante, apenas um instante 
Alguns segundos, rápidos, imperceptíveis
E ali está o invasor, tomando posse

Apenas um instante e alguém se torna parte
Agrega-se a sua vida como se sempre tivesse feito parte
Parte, todo, pedaços, de mim, de nós, de outros

Um instante e o que era já não é mais
Um instante, alguns segundos, até ser
Mais um instante para não existir, ou fingir.


Desplugando

Então, o silêncio é de ouro
A palavra é de prata
E os sentimentos são como um mar que se torna agressivo
Ou apenas flui calmamente

E eu,  como o mar, de acordo com a lua
Sigo sazonal, em minha própria confusão
Hora de ouro, hora como um pedaço de vil metal
Assim recomeço, lotado de sacolas, bolsas, pesos
Deixando coisas pelos caminhos

Abandonando culpas, medos, deixando pelo chão os sentimentos
Aquilo que não cabe mais, não serve mais
Ano solar requer mais somas e multiplicações
Mas antes de vir o novo, é preciso cuidar do velho.

A última olhada para trás

 Eu ainda amo  Ainda amo e amo ainda Há muito tempo Há muitos anos Há muitas vidas  Eu sinto isso em mim No estômago, no peito, nos olhos No...